O Brasil pertence ao negro

Se um negro, não qualquer um, mas um negro poderoso, um que tem poder, magia, um que é anjo, voltasse no tempo, o que será que ele diria para o negro do passado? Quais novas ele levaria, boas ou ruim? O que nós, os negros de hoje, teríamos para dizer ao negro da escravidão, aquele negro que em meio as dores, até mesmo esqueceu como se se sentir um ser humano digno de respeito, digno de vida. Será que nós nos sentimos dignos o bastante para ter algo de positivo para esse negro que mora longe no passado?

O que poderíamos dizer é que, sem dúvidas, o negro que aqui chegou, vindo da África, seja Bantu, Nagô, Malê, chegou para trabalhar como burro de carga, mas o negro sendo grande como negro é, fez bem mais. Trouxe com ele desde os tempos de 1500 mil e uma técnicas de agricultura, revolucionou como se planta, como se colhe. Foram os saberes africanos que possibilitaram que a economia do branco do Brasil avançou de alguma forma.

O negro trouxe força também, através da cultura. É o samba, uma das expressões musicais mais ricas e amadas do mundo que traz alegria, felicidade, mas também expressa as dores, amores e muita luta contra injustiça. O samba, não veio de qualquer lugar, mas diretamente de cada batida dos tambores africanos que marcaram a luta dos povos africanos, negros como a terra que nos dá tudo, contra a escravidão e a violência da chibata.

Grupo de Capoeira Unidos do Rosário (Minas Novas)
Foto: José Maria

Mas não foi só música, em meio a batidas e movimentos, emergiu a luta dos homens pretos. A capoeira, a quebra da cadência dos ritmos que as celebrações religiosas de matriz africana impõem ao corpo, transformado em golpes, transformando em luta, arte marcial africano-brasileira, forjada pelos pretos. Sim, esqueça a capoeira como só uma dança, é uma luta. Uma luta contra o senhor de escravos, contra o racismo que ao nosso argumento de humanidade, impõe a violência. A capoeira é a autodefesa do negro brasileiro.

Esse negro brasileiro que construiu a nossa cultura, transformou uma colônia portuguesa em um grande país e, ainda assim, foi excluído desse país. O negro não colheu os frutos do mundo que ele foi forçado a construir. De trabalhadores que revolucionaram a velha e arcaica agricultura portuguesa, grandes artistas, líderes religiosos, lutadores, advogados, médicos, engenheiros, poetas, líderes operários, deputados. Os negros e negras fizeram o Brasil, dos navios aos quilombos, dos quilombos aos gabinetes, esse país é negro e é negado ao direito do negro.

Congado de São Benedito dos Homens Pretos de Minas Novas e Grupo de Tambozeiros do Rosário
Foto: Lori Figueiró

Por Vinícius Souza

Deixe um comentário

You are currently viewing O Brasil pertence ao negro