Jequitinhonha: O vale dos pretos

Os quilombos, como já vimos nesse site, foram mais do que refúgios para os negros e negras que se revoltavam contra a escravidão. A partir do século XVII, em Minas Gerais começaram a surgir os primeiros quilombos formados por escravizados que iam trabalhar nas minas de ouro. São conhecidos os maiores como o Quilombo de Campo Grande ou de Mariana, mas existiram e existem muitos outros quilombos menores no estado de Minas Gerais.

Uma das regiões que guardam o legado desses quilombos, é o Vale do Jequitinhonha, região batizada com esse nome de origem indígena que significa “rio largo, cheio de peixes”. Existiam povos indígenas que viviam nas regiões do Vale antes da chegada dos europeus brancos com a colonização.

A terra, como sabemos, foi tomada pelos portugueses e os indígenas que não foram escravizados, foram mortos, até que a sua mão de obra foi substituída pela mão de obra africana.

Depois que os bandeirantes descobriram o ouro de Minas, a mão de obra escrava foi movida para aquela região. As extrações de ouro e diamante da região foram feitas por trabalhadores negros escravizados. Mas não devemos esquecer que onde existe opressão, existe resistência. Em meio a exploração desumana nas minas de ouro, os negros e negras se levantaram para construir novos quilombos.

Na extração de diamantes na região do Alto Jequitinhonha, os escravizados passaram a ocupar as regiões ao longo do Vale no entorno da região Diamantina, esse povoamento garantiu a territorialização desses negros mesmo após a abolição da escravidão, até os dias de hoje, formando quilombos que sobreviveram ao tempo e seguem resistindo.

Já no Baixo Jequitinhonha, a ocupação foi mais tardia, até o início do século XIX ainda eram os brancos que viviam por lá, mesmo que bem poucos. A população negra passou a ocupar a região fugindo da extração de diamante antes e depois do fim da escravidão.

Até os dias de hoje a população quilombola de Minas Gerais é estimada em até 115 mil pessoas, sendo 97% habitantes de zonas rurais. São 435 quilombos, entretanto, a maioria deles não foram reconhecidos e titulados, mesmo sendo a maior concentração de quilombos que existe no Brasil. Os quilombos seguem lutando pela sua identidade, cultura e direitos. São inúmeras populações que pisam em solo antigo de luta dos negros e negras e mantém viva uma cultura ancestral que resistiam até mesmo a escravidão.

Por Vinícius Souza

Deixe um comentário

You are currently viewing Jequitinhonha: O vale dos pretos